quinta-feira, junho 08, 2006

Solidariedade Compulsória



Rodrigo Constantino

“Somente quando somos responsáveis pelos nossos próprios interesses e livres para sacrificá-los é que nossa decisão possui valor moral.” (Hayek)

Muitos são os que pregam a solidariedade através do Estado. Que premissa está por trás disso? Qual o real motivador desses “nobres altruístas”? São questões que não costumam receber muita reflexão, mas deveriam. Afinal, freqüentemente o tiro sai pela culatra, e a suposta benevolência estatal acaba prejudicando mais que ajudando os indivíduos em geral. Pretendo, a seguir, questionar se realmente faz sentido usar o aparato estatal para a prática da solidariedade.

Na verdade, solidariedade compulsória já representa uma contradição em termos. Afinal, para ser solidariedade ela tem que ser voluntária. E o mecanismo estatal será sempre o da força imposta, caso contrário, não seria necessário o Estado. Mas os que defendem essa coerção estatal em nome do altruísmo parecem partir da falsa premissa de que, se mantidos livres, os indivíduos não praticariam atos solidários. Essa premissa é absurda, pois ignora que o próprio Estado é formado por homens também – normalmente não os melhores. Como, então, acreditar que cidadãos livres seriam incapazes de fazer o bem ao próximo e ao mesmo tempo esperar dos políticos – justo eles – tais ações?

De fato, podemos verificar empiricamente que essa hipótese é falsa. Os exemplos são inúmeros. Quando temos uma catástrofe natural, vemos que rapidamente indivíduos e empresas se unem voluntariamente para ajudar, mandando mantimentos, ajudando no acolhimento dos desafortunados e enviando verbas. A Wal-Mart, para dar um exemplo, ajudou muito New Orleans após o furacão Katrina. O que normalmente ocorre, para ser franco, é o oposto da crença comum: a burocracia estatal atrapalha tais iniciativas. Políticos interessados em votos, sem os quais não são reeleitos, politizam a situação. A burocracia cria empecilhos no caminho, sem falar da possibilidade do desvio de verbas, algo bastante comum na via política.

A natureza humana leva indivíduos a focar em seus próprios interesses. Mas isso não nos impede de cooperar, muito pelo contrário. Sabemos que amanhã pode ser um de nós precisando de ajuda. E sabemos também que cooperando estamos criando um ambiente melhor para nós mesmos. Até mesmo animais praticam esse “altruísmo recíproco”. Ou seja, a cooperação faz parte dos nossos interesses! Ver alguém em extrema necessidade e ajudar é o impulso natural que temos. Quando vemos cenas chocantes, como pessoas ignorando crianças jogadas nas ruas da China, consideramos isso repulsivo e totalmente desumano. Podemos tirar duas lições disso: primeiro, é natural querer voluntariamente ajudar o próximo; segundo, é justamente o excesso de intervenção estatal que inibe tal iniciativa. Afinal, os indivíduos acostumam-se com o fato de que sua ajuda particular não surte efeito quando o estrago causado pelo Estado é muito maior. Por isso vemos essas cenas chocantes na China, não em países liberais. O controle extensivo governamental altera o caráter das pessoas, e retira dos indivíduos a noção de responsabilidade.

Outro exemplo que podemos dar para mostrar a solidariedade individual está nas polpudas doações de pessoas ricas para causas nobres. Bill Gates, um indivíduo apenas, já deu bilhões para caridade. É o maior financiador de pesquisas para a malária, por exemplo. Como ele, existem vários, em diferentes graus. Já as transferências estatais sempre se mostraram ineficientes. O critério adotado é sempre o político, e acabamos vendo o enriquecimento ilícito de outros políticos, receptores da ajuda internacional. A África é o exemplo perfeito disso. Recebeu bilhões de dólares por décadas, mas a miséria só fez aumentar, enquanto políticos corruptos enriqueceram.

Nosso presidente também mostra como a “solidariedade” estatal é perigosa. Ele perdoou milhões em dívida de outros países com o povo brasileiro, somente objetivando a conquista de votos para um assento no Conselho de Segurança da ONU, assim como mandou tropas ao Haiti com o mesmo objetivo.

Este assunto merece maior atenção ainda quando chegamos em ano eleitoral. Podemos ver os riscos do abuso com o dinheiro dos outros por parte de políticos populistas. O Bolsa Família, que tem lá seus méritos, acabou se transformando numa verdadeira máquina de compra de votos. Estamos chegando a dez milhões de famílias agraciadas com a esmola estatal. Ora, sabemos que o cão não morde a mão que o alimenta. Esses beneficiados pelo programa irão, provavelmente, votar no seu benfeitor. Supondo que cada família tem dois adultos, estamos falando de cerca de 20 milhões de votos! Isso é quase 20% do total dos eleitores nacionais. Estranhamente, vemos o presidente comemorar o aumento de pessoas que recebem esmola, enquanto isso deveria ser repudiado, posto que viver de esmolas não dá dignidade a ninguém. E então: altruísmo ou populismo?

No fundo, o que temos é o lamentável quadro de que muitos “altruístas” são apenas egoístas defendendo o próprio interesse às custas dos outros. Posam de nobres almas, sempre com o esforço alheio. O ato de ajudar o próximo sem dúvida é louvável. Mas se para isso pregamos a escravidão alheia, não há nada a ser admirado no ato. Ser solidário com o suor dos outros é fácil. Porém, é também imoral. Que fique claro uma coisa: a solidariedade deve ser sempre voluntária!

10 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito! Sem comentários. O artigo já fala tudo. Muito bom mesmo.

Anônimo disse...

Nunca levo em consideração algo escrito por um bacharel de uma universidade particular. Se fosse bom mesmo, não pagaria pra ser formar.

Anônimo disse...

Esta aí um legítimo imbecil. Sr. anônimo, suponho que você seja fã de Marx, e se não, deve todo sua estrutura de pensamento ao mesmo, mesmo que indiretamente. Pois olha só o que o próprio Marx, num momento de lucidez, disse sobre universidade pública: "Universidades públicas são aonde a elite usa dinheiro público para financiar os estudos de seus filhos". Olhe à sua volta, e é isso que você verá. É claro que existem as exceções, como pessoas muito pobres de grande inteligência que frequentam federais, mas se você analisar a questão estatisticamente você perceberá um gradiente perverso, pelo qual as chances de se ingressar numa federal sendo rico são estratosfericamente maiores. Os estudos do ricos acabam sendo pagos pelos impostos do padeiro, do açougueiro, do taxista... gente cujos filhos provavelmente NÃO vão frequentar universidade pública, se é que vão frequentar universidade. Portanto, você poderia parar de falar merda respeitar alguem que literalmente paga pelos próprios estudos. Ou você acha que a grana que sustenta as federais cai do céu por acaso? (Eu estudo na UnB, então nem vem encher o saco por corporativismo.)

Quanto ao autor, ótimo artigo, mas eu tenho uma dúvida: se toda a solidariedade fosse privada e não pública, provavelmente seria feita em boa parte por meio de ONGs. Mas ONGs, assim como o Estado, também podem ser corruptas, aliás mega-corruptas pra caralho às vezes, então qual a saída? Solidariedade praticada particularmente e sem intermediários não me parece muito eficiente.

Anônimo disse...

Creio que falte incentivos a solidariedade.

O desincentivo começa com o proprio estado que corroi 40% do salarios dos trabalhores para entre outras coisas, "comprar sua consciencia" de que algo esta sendo feito e que sua "obrigação solidaria" ja foi cumprinda, voce ja "fez a sua parte".

Creio que a iniciativa privada, como exemplo dos programas socais de bancos, empresas de celulose, grandes supermercados como o Pão de Açucar, etc... sao otimo em eficiencia e pouca ou nenhuma corrupção.

O Empresario investindo seu proprio dinheiro é a forma mais segura de se garantir que este nao seja corrompido e que nao aja desperdiçios.

Falta incentivos!

Anônimo disse...

"Nunca levo em consideração algo escrito por um bacharel de uma universidade particular. Se fosse bom mesmo, não pagaria pra ser formar."


É o tipico pensamento esquerdista. O infeliz so esqueceu de se informar sobre quem frequenta as universidades federais.

A classe mais abastarda da população, vinda de boas escolas particulares!

Mas tudo bem, o sujeito é de esquerda, comentarios deste tipo sao mais que compreensiveis..

Anônimo disse...

Cara, você é um gênio...
Seu texto "religião do marxismo" (ou algo parecido) e achei impressionante. Como é que um cara como você ainda não ganhou o nobel da economia? Caramba, você usa uma retórica impressionante para acabar com o Capital. Você tem dados sobre a vida de Marx incriveis. Não entendo como ainda trabalhas no "mercado financeiro". Merecias muito mais...



Babaca, vai estudar.

Rodrigo Constantino disse...

Um coitado desses tem que se manter no anonimato mesmo...

Adriano S. de Oliveira disse...

Esse papo furado de "justiça social" é um instrumento utilizado pelas esquerdas, para usurpar cada vez mais os contribuintes. Pois, quanto mais "projetos sociais" mais impostos!!!

O engraçado é que nações desenvolvidas, só conseguiram se desenvolver, reduzindo os impostos e o tamanho do Estado.

Porém, reduzir o Estado no Brasil, significa que a "corte" deverá abrir mão de muitos privilégios...

A monarquia se foi, mas a corte ficou! E para sustentar suas mamatas, cobra seus impostos, sob o disfarce da "justiça social"!!!

Anônimo disse...

Ótimo artigo

zanela disse...

Idem o comentário anterior e reforço afirmando umponto que julgo deveras curioso: todos os esquerdistas defendem a solidariedade, mas com o dinheiro dos outros.

Um forte abraço e até.

cord.

D.
http://dartagnanzanela.ubbihp.com.br