quarta-feira, janeiro 14, 2009

Reféns do Governo



Rodrigo Constantino

Nenhuma empresa gosta de demitir funcionários. Há um custo de treinamento que é desperdiçado, o clima na empresa fica carregado, prejudicando a produtividade, e a própria demissão custa caro no Brasil. Portanto, demitir é uma medida drástica adotada somente quando necessária para lucrar e sobreviver. Infelizmente, existem momentos em que não se pode fugir desta decisão dolorosa, caso contrário todos os empregos na empresa ficarão em risco. Evitar as demissões necessárias não é uma medida “humanista”, pois os próprios consumidores punem as empresas menos competitivas, e a sobrevivência delas fica ameaçada. Logo, a decisão estratégica de demitir ou não é uma das mais importantes para a gestão da empresa, principalmente em setores intensivos em mão-de-obra. As leis de mercado são inexoráveis, e não podem ser alteradas por medidas populistas do governo.

A crise mundial é demasiadamente séria, e não uma simples “marolinha”, como afirmou o presidente Lula. Agora parece que finalmente caiu a ficha no Planalto. Os dados de emprego saíram bem fracos, e o governo, de olho nas eleições de 2010, começa a ficar incomodado. A tentação é partir para as soluções “milagrosas”, que protegem empregos hoje, condenando os empregos de amanhã. O governo pretende impor através da chantagem a manutenção do quadro de pessoal para não perder votos, piorando a competitividade dessas empresas. Trata-se de uma medida maquiavélica às avessas: salva dez hoje para condenar cem amanhã. Para a lógica política pode fazer sentido: depois das eleições, o poder já estará garantido. Mas para esses empregados todos isso é uma afronta!

O ministro do Trabalho Carlos Lupi fez uma ameaça direta ontem, mirando nas empresas automotivas, que empregam muita gente. Ele lembrou que o governo concedeu financiamento através do BNDES e demais bancos estatais para estas empresas, e ameaçou rever isso caso elas sigam em frente com o plano de demissões. O ministro não poderia ter sido mais direto: “As empresas têm de garantir emprego ou o governo terá de rever essas linhas de financiamento”. Como fica claro agora, os financiamentos não foram realizados com base em dados técnicos de risco e retorno, como fazem os bancos privados. Não era uma decisão de negócio dos bancos, mas uma medida política. E agora o governo vem cobrar o preço. As empresas ficam na delicada posição de reféns do governo.

O socialismo alemão de Hitler não aboliu a propriedade privada de jure, como os soviéticos fizeram, mas acabaram com a propriedade privada de facto. Era o governo que mandava nas empresas, nos mínimos detalhes. Apontava gerentes, decidia quanto produzir, quanto vender, para quem e a que preço. Na prática, não há muita diferença. O funcionamento do livre mercado pressupõe o direito à propriedade privada na prática, ou seja, os acionistas devem ser livres para tomar suas decisões estratégicas, incluindo a formação de preços e a contratação ou demissão de pessoal. Quando é o governo quem decide isso tudo, não temos livre mercado, mas sim socialismo. Não obstante a elevada carga tributária e a burocracia asfixiante, o governo pretende agora controlar ainda mais as empresas. Não há (ainda) clima político para estatizar todas as empresas, apesar do avanço nesse sentido no setor bancário. Mas o governo parte para o controle através de mecanismos indiretos. Ele controla quase a metade do setor financeiro, e os empréstimos ficam condicionados aos desejos políticos dos governantes. Isso é socialismo!

A solução para esse grave problema está em cortar o mal pela raiz, ou seja, o governo não deve mais dispor desse poder econômico todo. Por que o governo precisa atuar como banqueiro? A tarefa de ligar poupador a investidor começou no setor privado e deve ficar totalmente sob a responsabilidade do setor privado. Quando o governo vira banqueiro, como no caso brasileiro, as decisões deixam de ser técnicas e passam a ser políticas. O domínio do crédito por parte do governo é análogo ao controle da bola pelo garoto mimado: apenas quem aceitar suas regras pode jogar. Isso representa a morte do livre mercado, a maior garantia existente para os trabalhadores. O governo resolve sacrificar o futuro dos trabalhadores para garantir empregos momentâneos, focando somente nas eleições seguintes. E as empresas acabam reféns desse populismo. Todos saem perdendo, à exceção dos políticos no poder e seus aliados sindicalistas.

Se o governo realmente quer fazer algo pelos trabalhadores, que faça reformas estruturais, reduzindo e simplificando os impostos, flexibilizando as leis trabalhistas, reduzindo o aparato burocrático, privatizando estatais e acabando com os privilégios do setor público no sistema previdenciário. Seria um excelente começo! Mas essas medidas, que realmente ajudariam de forma sustentável os trabalhadores brasileiros, prejudicariam justamente os que mamam nas tetas públicas. E são eles que mandam...

PS: Os aliados do governo ficaram muito contentes com a nova cara da candidata Dilma Rousseff, que passou por uma plástica recentemente. Acreditam que a embalagem recauchutada pode conquistar mais eleitores. Focam na estética, e ignoram o conteúdo. Esquecem que a cirurgia pode retirar algumas rugas, mas não apaga o passado de assaltante da guerrilheira Estela, codinome usado por Dilma quando lutava para implantar no país uma ditadura nos moldes cubanos. Não custa lembrar que ela jamais declarou publicamente sentir arrependimento pelo passado nefasto; muito pelo contrário, ela insiste em repetir que tem muito orgulho de tudo que fez. Como escreveu Sêneca, “ninguém pode usar uma máscara por muito tempo: o fingimento retorna rápido à sua própria natureza”. Dilma pode mexer no rosto quantas vezes quiser: isso não vai alterar seu caráter, sua essência, que carrega o DNA de uma autoritária sedenta por poder.

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