terça-feira, setembro 11, 2012

Nós, os inúteis

João Pereira Coutinho, Folha de SP


Posso oferecer uma sugestão de leitura? "The Revolt of Man" (a revolta do homem), de Walter Besant (1836-1901). O leitor não conhece? Acredito. Sir Walter foi um respeitável cavalheiro vitoriano que a história da literatura inglesa acabou por esquecer.
Injusto. O livro, uma novela distópica brilhantemente escrita, é um exemplo de misoginia que diverte as almas saudáveis.
Enredo: na Inglaterra do futuro, o mundo é governado pelas mulheres. Elas controlam tudo: política, economia, cultura, trabalho. E os homens? Os homens, pobre raça, são reduzidos a bestas de carga e escravos sexuais das triunfantes donzelas.
Fatalmente, essa vaginocracia começa a sair dos eixos: a sociedade a empobrecer, o caos a reinar, as instituições a colapsar --e as mulheres, em desespero de causa, apelam aos homens para salvar a honra do convento.
São eles que regressam das catacumbas para repor a ordem e a felicidade universal.
Besant viveu no século 19. Mas o que diria ele do nosso século 21?
Olho em volta. E concluo que só tenho amigas solteiras ou divorciadas. Casamento é artigo raro e breve por estas bandas.
A situação, confesso, seria a ideal para um rapaz disponível como eu, com hábitos de higiene adquiridos e uma sanidade mental, digamos, satisfatória. O problema é que os homens deixaram de ser ideais para elas.
As solteiras encontraram no trabalho a independência econômica que as mães e avós não tinham. Os homens, quando muito, servem para necessidades ocasionais que esta Folha, um jornal de família, me impede de mencionar.
As divorciadas já passaram pela experiência e não gostaram. Depois da paixão e do idílio dos primeiros anos (ou meses), descobriram com espanto que o príncipe, afinal, sempre foi um sapo. A barriga do infeliz cresceu. A comunicação desapareceu. E o sexo passou a ser, nas imortais palavras de Nelson Rodrigues, "uma mijada". Conclusão?
Depois de o amor virar farsa, elas pegaram nos respectivos girinos e jogaram-nos no charco da inutilidade.
Homem só atrapalha. E nem para filhos serve mais: ser mãe é como fazer inscrição na academia. Basta escolher o banco certo e a questão, nove meses depois, está resolvida.
Um livro recente, aliás, enfrenta o problema. Foi escrito por Hanna Rosin, intitula-se apocalipticamente "The End of Men: And the Rise of Women" (o fim do homem: e a ascensão da mulher) e, segundo resenha da "Economist", tem números que podem interessar aos brasileiros: 1/3 das mulheres do país já ganham mais do que os seus companheiros. Existe até um grupo de apoio para esses homens infelizes, sintomaticamente intitulado "Homens de Lágrimas". Será verdade, leitor? Não minta, não minta.
O Brasil não é caso único. Na Coreia do Sul, o excesso de mulheres na carreira diplomática obrigou o governo a instituir as fatídicas cotas para homens.
Moral da história? Os homens começam a ser bichos em vias de extinção. Sem a importância econômica, reprodutiva ou até social de outros tempos, os pobres coitados ainda tiveram uma suprema humilhação com a crise financeira de 2008: conta a mesma "Economist" que 3/4 dos empregos destruídos pela hecatombe --nas finanças, nas fábricas, na construção civil-- eram tradicionalmente masculinos.
Pelo contrário: a nova economia emergente, baseada cada vez mais em qualidades como "comunicação" e "adaptação", está pronta para o triunfo da sensibilidade feminina.
Se Edward Besant viajasse do século 19 para o século 21, imagino que a sua distopia seria outra: sim, o mundo estaria nas mãos das mulheres. Mas, dessa vez, os homens já não existiriam para o salvar.
Estariam demasiado ocupados, de bermudão e cerveja, com os amigos no botequim.
Porque essa talvez seja a verdade mais dolorosa de todas, que a "Economist" refere sem desenvolver o tema competentemente: não foi a economia ou a libertação sexual feminina que fez dos homens seres inúteis.
Os homens deixaram de ser úteis quando deixaram de ser homens --na atitude, nos comportamentos, nos "hobbies", até no vestuário e nas "tendências" (horrenda palavra).
Nenhuma mulher gosta de ter em casa dois adolescentes retardados: o filho e o pai.

7 comentários:

Thiago Lorenzi disse...

Rodrigo, viu esse artigo na carta capital sobre o Millenium? http://www.cartacapital.com.br/sociedade/instituto-millenium-midia-e-as-licoes-da-historia/

sempre a mesma lenga lenga..

Anônimo disse...

É a pura verdade.
Eu tenho tentado entender, não sou contra as mulheres, mas tento entender o porque homens ou muitos deles gostam de ser comandados por mulheres.
Eu não gosto.
Na política vemos aí a Cristina a Loca na Arghentina, Dilma no Brasil, Marta, Erundina, A chanceler alemã Angela Merkel, Christine Lagarde no FMI, Graça Foster PB, Grace Lieblein, da GM Brasil, Virginia Rometty, da IBM,Meg Whitman, da HP e por aí vai.
Uma das conclusões que cheguei é que com o grande número de crianças nascidas de mães solteiras,após a década de 60 e de mães divorciadas ou separadas,essas crianças tem na mãe a sensação de amparo e, sem a figura paterna, acabarão crescendo endeusando a mãe que luta para alimentá-lo e sobreviver. Daí passam a achar que mulher faz ou são melhor que homens, afinal veja o que o pai fez abandonando a mãe.
Outra coisa é a questão salarial. Para muitos serviços o salário pago às mulheres é menos, afinal elas aceitam porque tem pais, ou são casadas e aquilo é mais um complemento para o supérfluo ou para as finanças da família.
Na outra ponta homens perdem posto de trabalho, veem mulheres comandando e ascendendo acima deles na empresa e com isso la se vai o orgulho a autoconfiança e finalmente já castrados, voltam a ser os bebês da mamãe, já não são homens.

Míriam Martinho disse...

O Pereira Coutinho é um dos poucos conservadores - assim ele se assume - que, em geral, leio com gosto. Muito divertido o texto.

Incrível como as coisas mudaram em pouco mais de meio século. Os homens e o masculino (uma convenção isso) estão mesmo em baixa. Certa feita passei um texto sobre as angústias masculinas, diante de tantas mudanças, numa lista só de mulheres. Se não me falha a memória, era da Elaine Brum. Quase fui linchada simplesmente por me solidarizar com essa angústia. Afinal, os agentes do patriarcado não merecem tanta consideração. Infelizmente, parece que, em vez de igualdade de direitos e de oportunidades, está se trocando 6 por meia dúzia. Da falocracia para a vaginocracia. E essa história da maior sensibilidade feminina é tão verdadeira quanto a justeza do sistema socialista...rsss
Ah, e realmente a esquerda está de olho no Millenium. Veja também aqui: http://bit.ly/Q61Z1P

Anônimo disse...

Masculino = convenção: essa é a lenga lenga das feministas.
Mas enfim, nisso o Anônimo das 3:37 acertou na mosca, estamos vendo o resultado de uma geração que cresceu sem uma referência paterna positiva

Anônimo disse...

http://weheartit.com/entry/663175/via/blueflower
Quem vem emasculando os homens é o governo, que de uns tempos assumiu os papeis que antes eram do pai.
A feminista que não é socialista só pode ser muito burra

Anônimo disse...

Tom fala: muito interessante o tema. Tenho uma opinião sobre isso: Tudo bem, sou homem e concordo que as mulheres foram oprimidas no passado, ou seja, mesmo não tendo vivido nas cavernas, assumo minha parecela de responsabilidade. Queimaram o situã na rua, e desde essa data, a mulher vem conquistando mais e mais um espaço na sociedade. Eu penso o seguinte: a mulher não tem noção das consequências a que isso pode levar. Lembra do tio do Peter Paker: com grandes poderes, vem grandes responsabilidades! A mulher, por mais que tenha mudado, conquistado e evoluído, pra mim, ainda tem na cabeça os mesmos aspectos do que ela acha HOMEM do que a 100 anos atrás. E nós homens? Verdade é que a gente NÃO SABE O QUE FAZER. E tem sido cada dia mais difícil. E eu não acho que os homens vão estar demasiadamente ocupados tomando cerveja de bermuda com os amigos. Acredito que vão ser um bando de perdidos, que cada dia mais não sabem lidar com esse novo tipo de mulher que ascende! Por que nossos pais, nossos avôs, sempre tiveram a mesma receita e que sempre funcionara anos atrás. Mas e agora? Nada contra a mulher estar se expandindo... o que me preocupa é se ela tem a exata noção das consequencias disso. Tudo na vida é equilíbrio. Tem mais e menos, tem noite e dia, tem calor e frio, homem e mulher... a mulher muda, e nós insistimos a ser os mesmos babacas de bermuda tomando cerveja. Fica a pergunta final: E quando o homem mudar? A mulher vai estar preparada pra isso? Como ela vai lidar com um homem chorando? Um homem admitindo suas fraquezas... Será que elas, inconscientemente, vão entender isso? Abraço!

Anônimo disse...

Tom fala: muito interessante o tema. Tenho uma opinião sobre isso: Tudo bem, sou homem e concordo que as mulheres foram oprimidas no passado, ou seja, mesmo não tendo vivido nas cavernas, assumo minha parecela de responsabilidade. Queimaram o situã na rua, e desde essa data, a mulher vem conquistando mais e mais um espaço na sociedade. Eu penso o seguinte: a mulher não tem noção das consequências a que isso pode levar. Lembra do tio do Peter Paker: com grandes poderes, vem grandes responsabilidades! A mulher, por mais que tenha mudado, conquistado e evoluído, pra mim, ainda tem na cabeça os mesmos aspectos do que ela acha HOMEM do que a 100 anos atrás. E nós homens? Verdade é que a gente NÃO SABE O QUE FAZER. E tem sido cada dia mais difícil. E eu não acho que os homens vão estar demasiadamente ocupados tomando cerveja de bermuda com os amigos. Acredito que vão ser um bando de perdidos, que cada dia mais não sabem lidar com esse novo tipo de mulher que ascende! Por que nossos pais, nossos avôs, sempre tiveram a mesma receita e que sempre funcionara anos atrás. Mas e agora? Nada contra a mulher estar se expandindo... o que me preocupa é se ela tem a exata noção das consequencias disso. Tudo na vida é equilíbrio. Tem mais e menos, tem noite e dia, tem calor e frio, homem e mulher... a mulher muda, e nós insistimos a ser os mesmos babacas de bermuda tomando cerveja. Fica a pergunta final: E quando o homem mudar? A mulher vai estar preparada pra isso? Como ela vai lidar com um homem chorando? Um homem admitindo suas fraquezas... Será que elas, inconscientemente, vão entender isso? Abraço!