segunda-feira, julho 22, 2013

Acordo com o Papa

Rodrigo Constantino

O Papa está chegando no Brasil. Não se fala de outra coisa. Confesso ter até simpatia por Francisco I, um Papa que parece realmente humilde e disposto a mexer em vespeiros no Vaticano. Mas até o Papa comete seus deslizes...

Ricardo Noblat, em sua coluna de hoje no GLOBO, traz algumas passagens do Papa sobre diferentes assuntos. Não quero ensinar o Papa a rezar a missa. Quem sou eu?! Mas sobre economia, sim, acho que tenho uma ou outra palavrinha para agregar. O Papa diz:


Neoliberalismo. "A crise socioeconômica e o consequente aumento da pobreza têm suas origens em políticas inspiradas por formas de neoliberalismo, que consideram o lucro e as leis do marcado como parâmetros absolutos acima da dignidade das pessoas ou dos povos. (...)
Na predominante cultura neoliberal, o externo, o imediato, o visível, o rápido, o superficial: estes ocupam o primeiro lugar, e o real cede terreno às aparências".
Globalização. “A globalização que uniformiza é essencialmente imperialista e instrumentalmente liberal, mas não é humana. Em última instância, é uma maneira de escravizar os povos. (...)
A globalização, como uma imposição unidirecional e uniforme de valores, práticas e bens, anda de mãos dadas com a imitação e a subordinação cultural, intelectual e espiritual".

Não, nobre Papa, a crise não é resultado do neoliberalismo, tampouco há essa dicotomia entre lucro e pessoas. Essa passagem, aliás, ficou parecendo do Noam Chomsky. A ganância desmedida pode ser um problema sim, mas isso não é fruto do "neoliberalismo", e sim de seres humanos sob qualquer modelo econômico. No socialismo, tal ganância é transformada em tirania da pior espécie.
Tampouco a crise foi resultado desse modelo. A crise foi resultado do excesso de intervencionismo do estado, do Banco Central praticando taxas de juros artificialmente baixas, da Casa Branca pressionando as empresas de hipoteca a emprestarem para os mais pobres em busca de votos, enfim, as impressões digitais do governo estão em todas as cenas do crime!


Globalização como instrumento liberal "imperialista"? Vossa Santidade, que isso? Parece até um marxista da Teologia da Libertação! A globalização não escraviza povo algum, ela liberta! Ela leva prosperidade, ampliação de alternativas para consumo ou estilo de vida, empregos e riqueza. Assim não, Papa...
Vamos combinar uma coisa? Eu não me meto nas questões católicas, mas o senhor evita dar pitaco em economia. Combinado? Temos um acordo?

11 comentários:

Unknown disse...

E falou o líder da "libertação", o Papa.

Óh, mas quanta liberdade do porta-voz da igreja que impede todo tipo de liberdade individual possível, como é o caso da eutanásia, pesquisa com células, contra o aborto, contra camisinha... fico até emocionada, acho que vou chorar com tanta liberdade... SÓQUENÃO!

O Papa poderia rezar mais, e opinar menos...

Manuel disse...

Creio que o principal erro foi omitido. A pobreza não está aumentando, muito pelo contrário centenas de milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza nas décadas recentes.

brunoalex4 disse...

Caro Rodrigo,

Gostaria de um comentário seu a respeito do que disse Eduardo Paes, ontem, a uma equipe de repórteres franceses. O prefeito se referiu à França como país de pessoas que não gostam de trabalhar. Não conheço a França e nunca tive a oportunidade de sair do Brasil, mas conheço "estepaiz", e sei muito bem que trabalho não é algo muito valorizado por aqui. Leio seu blog e o do Reinaldo Azevedo todos os dias e seria muito importante seu comentário.

Anônimo disse...

"Em última instância, é uma maneira de escravizar os povos."

Disse o homem cuja a Igreja apoiou a escravidão de negros e indígenas.
A propósito, direitos humanos é uma das bandeiras do liberalismo (lembrar de Voltaire).

E ainda há quem diga que esse novo Papa é "conservador".
Saudades de João Paulo II.Esse sim fez uma grande colaboração para o fim do socialismo na Polônia.

Anônimo disse...

O que esperar de um Papa latino? Bom, isso eu já esperava.

Anônimo disse...

E o homem é da América Latina, pior, da Argentina dos dias de hoje...

Fora do assunto: pequeno "legado" da Olimpíada para a nossa Cidade Maraviscosa, deu no "Estadão" hoje: "Nasce em São João da Boa Vista novo polo aeronáutico." Lá pelas tantas o texto diz: "A segunda [empresa] a integrar o polo aeronáutico de São João da Boa Vista [SP] foi a Golden Flyer, fabricante do avião anfíbio Seamax. A companhia estava havia 12 anos no mercado e tinha até o ano passado sede no Clube Esportivo de Voo (CEU), em Jacarepaguá, no Rio. O local, no entanto, será demolido para dar espaço para o Parque Olímpico."

Viva! É brincadeira!

Anônimo disse...

Rodrigo,

Pior fez o padre Libânio no Estadão:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,analise-despojado-bergoglio-viu-de-perto-os-efeitos-do-neoliberalismo--,1055898,0.htm

Só ele viu liberalismo econômico na Argentina. Afirmar tal absurdo só pode ser desonestidade intelectual ou uma gigantesca ignorância histórica e econômica. Por se tratar de um padre, quero acreditar que seja ignorante dos assuntos terrestres.

Abraços,
Leonardo Martins

Paulo Henrique disse...

Puta sou católico, mas é difícil isso aí, poucas pessoas na igreja compreendem o verdadeiro mal do mundo. E inocentemente dão crédito a políticas socialistas, que acabam por destruir o catolicismo. Triste. Bom post!

Anônimo disse...

Olavo de Carvalho tem um texto interessante sobre isso: http://www.olavodecarvalho.org/textos/capitalismoecristianismo.htm

Acho que o texto é mais antigo (não tem referências de quando foi publicado).

Anônimo disse...

Eu, se fosse o Papa, só falaria de moral, religião, costumes, comportamentos, etc.
Falar de economia é nisso que dá!
Pela lógica cristã, se Deus criou homens de todos os tipos, então um tipo ganancioso, que é um perfil moral, também é criação divina. Logo, Deus é o culpado...ora...ora!
Na China comunista(salva pela economia de mercado!) tem ganancioso ou não tem?
Odilon Rocha, de João Pessoa

Anônimo disse...

Hahahaha! Ta se achando pra poder fazer acordos com chefes de Estado hein, Constantino... Menos, menos...