sábado, julho 20, 2013

Um teatro chamado Mercosul

Rodrigo Constantino

O editorial do Estadão de hoje já começa colocando o dedo na ferida:

Caudatários de uma ideologia em que a farsa substitui a história, os dirigentes de Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai acreditaram que fosse possível, na base do caradurismo, adulterar a narrativa dos acontecimentos para legitimar a entrada dos venezuelanos no Mercosul. Tal como na Rússia stalinista, em que personagens inconvenientes para a história oficial eram apagados das fotos, o Paraguai, que se opunha ao ingresso da Venezuela, foi "apagado" do bloco sul-americano, como se suas objeções nunca tivessem existido. Agora que o objetivo foi plenamente atingido - a Venezuela não apenas é membro do grupo, como o preside -, o Paraguai foi convidado a reaparecer na foto do Mercosul, para completar o roteiro burlesco costurado pela vanguarda bolivariana. Mas os paraguaios, teimosos, se recusam a participar dessa chanchada.

Infelizmente, o Mercosul se transformou em uma piada de mau gosto, um grupelho ideológico que serve para abrigar as pretensões bolivarianas de caudilhos latino-americanos, nada mais. Enquanto o Brasil perde seu precioso tempo nessa emboscada, outros países fecham acordos de livre-comércio bilaterais vantajosos. É o caso da Aliança do Pacífico, que vai despontando na região como ilha de pragmatismo em meio a radicais de esquerda. Diz o editorial:

Trocando em miúdos, Brasil e Argentina, em nome da defesa da democracia, patrocinaram um atentado contra as instituições do Mercosul para favorecer um regime cujo autoritarismo é a principal marca. O tratado do bloco exige o voto unânime de seus fundadores para aceitar novos sócios. Como o Congresso paraguaio dava todas as indicações de que não aprovaria o ingresso da Venezuela chavista, Dilma e Cristina aproveitaram a oportunidade da crise política paraguaia para, num passe de mágica, eliminar o voto do país. Enquanto os paraguaios estavam suspensos, Brasil, Argentina e Uruguai abriram as portas do Mercosul para os venezuelanos, numa decisão cuja legalidade é obviamente contestável.

Esse teatro farsesco serviu apenas para ridicularizar de vez o bloco, assim como os países envolvidos. É realmente lamentável que o Brasil, sob o governo petista, tenha não só participado e endossado, como liderado essa comédia. O Mercosul, hoje, não passa de uma ópera bufa, de uma novela mexicana de quinta categoria, fingindo que há respeito às instituições democráticas e ao próprio acordo de livre-comércio entre seus membros. 

Mas, se a novela parece mexicana, o México quer distância desse tipo de furada. Prefere ficar próximo dos Estados Unidos, o "Grande Satã" segundo os bolivianos que dão as cartas no Mercosul. Com atores tão medíocres assim, o teatro só pode acabar em retumbante fracasso de bilheteria. Quem paga a conta do mico, naturalmente, somos todos nós, brasileiros, que ficamos à margem do comércio mais amplo internacional, amarrados na camisa-de-força ideológica que é o Mercosul. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Ninguém comenta nesse blog ?

Boris Dunas disse...

O que ainda precisa acontecer nezztepaízz pra que o populacho (incluindo aí os editorialistas dos noticiários) passe a chamar isso aqui de DITADURA COMUNISTA? Depois de tantas “medidas autoritárias” e mais “medidas autoritárias” ainda não chegamos a lugar nenhum? De quantos “caminhando para o totalitarismo” em “caminhando para o totalitarismo” são precisos para formar uma TIRANIA de extrema esquerda? A cegueira é tamanha que se o Lulla em pessoa dissesse com todas as letras que o Brasil já vive em pleno regime socialista (e na verdade ele JÁ DISSE isso), ato contínuo, jornalistas e “especialistas” do país inteiro e do “mundo mundial”, em prejuízo próprio, sairiam juntando os cacos, maquiando e embelezando e perfumando as palavras do Apedeuta, tratando de descaracterizar o real significado das coisas e poupando o analfabeto de si mesmo. O pior da estupidez é não ter limite.